domingo, outubro 30

domingo, outubro 16

Ronda das mil belas em frol, Mário de Carvalho



Qualquer livro Mário de Carvalho obriga-me a ter o dicionário ao pé. Já estava à espera: um vocabulário alargado e rico, uma grande atenção à escrita. Mas ler esta coleção de contos eróticos, a roçar o vulgar e de gosto duvidoso, interrompidos amiúde pelo Priberam, e compará-los com as descrições ritmadas, licenciosas e onomatopaicas de Reinaldo Moraes que li recentemente, transformou a narrativa de Mário de Carvalho, Ronda das mil belas em frol, em algo decepcionante.

«Na hora da verdade, a experimentada, ávida e estrondosa Antonieta não queria outra coisa. Algo ela me ensinou. Regia os tempos. Escusava pressas, mas, inesperada, também precipitava delongas. Ditava e mandava, disfarçando o todo em lânguida doçura.
Cabeça revolta a dar a dar, um ofego em crescendo, com torção do corpo e arranque abismal, bradado na surpresa dum rompante ao modo popular, exigindo mais alguma coisa ou asseverando que alguma coisa estava para acontecer. Vocabulário cru, em barda. Expressões que não me eram lembradas desde a pornografia adolescente.»

segunda-feira, outubro 10

A estranheza da escolha de A vegetariana à tetralogia de Elena Ferrante para o Man Booker Internacional


«As gravações tinham ficado melhores do que esperava. A iluminação, os movimentos dela, o ambiente que evocavam - tudo estava de cortar a respiração. Considerou por um momento a possibilidade de adicionar alguma música de fundo, mas decidiu mantê-lo sem som, para dar a ideia de que tudo o que se estava a passar no ecrã acontecia numa espécie de vácuo. A delicadeza das linhas dela, o seu corpo nu coberto de flores maravilhosas, a mancha mongólica - tendo como pano de fundo o silêncio, uma harmonia silenciosa que evocava algo de primitivo, e eterno.»
A Vegetariana, de Han Kang

sábado, outubro 8