sexta-feira, março 25

Quando o futebol se deslocou para norte



Na década de 70, todos percebemos que havia mais do que o futebol brasileiro. Sim, até ali não havia mais nada. O futebol europeu resumia-se a um jogo esforçado, dedicado e estéril.
Aquelas camisolas brancas de tira larga vermelha do Ajax surpreenderam-nos. Todos nós, miúdos agarrados a uma bola desde que nascemos, arregalámos os olhos para perceber este comportamento coletivo contracultura, de movimentos largos, de movimentações sincronizadas e de uma criatividade dada a solistas de outra estirpe.

quarta-feira, março 16

Dividir, serrar e tirar. Um livro brutal. E belo.



"Todos aqueles anos em que estive ausente, os meus amigos viveram-nos numa completa euforia: a revolução realizara-se! O comunismo caiu! Todos estavam confiantes em que tudo se comporia, porque na Rússia havia muitas pessoas instruídas. Era um país rico. Mas o México também é um país rico... Não se compra a democracia com petróleo e gás, nem se pode importar, como as bananas ou os chocolates suíços. Nem se proclama por um decreto do Presidente... São necessárias pessoas livres, e não as havia. E continua a não haver. Na Europa há duzentos anos que cuidam da democracia como quem cuida da relva. Em casa, a minha mãe chorava: «Tu dizes que Estaline era mau, mas com eles nós vencemos. E tu queres trair a pátria.» Um velho amigo meu veio visitar-nos. Bebemos chá na cozinha: «O que vai acontecer? Nada de bom acontecerá, enquanto não fuzilarmos todos os comunas.» Mais sangue? Alguns dias depois entreguei os documentos para sair do país..."
O Fim do Homem Soviético, Svetlana Aleksievitch